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Moradores de residências terapêuticas resgatam identidade e reestabelecem laços familiares após reencontros promovidos pelo Núcleo Estadual de Saúde Mental, em Carmo

Após décadas de internação em hospitais psiquiátricos, moradores têm suas famílias localizadas; um deles, de 83 anos, revê irmãos após mais de 25 anos de separação

unnamedResgatar a história de ex-internos de hospitais psiquiátricos e devolver a eles a autonomia são algumas das principais propostas do Núcleo Estadual de Saúde Mental (NESM), que atua em parceria com a rede de atenção psicossocial do município de Carmo. Seguindo a política nacional de saúde mental, a Secretaria de Estado de Saúde dispõe de 21 residências terapêuticas onde 124 moradores resgatam sua dignidade, laços familiares e até constroem uma nova história. Neste último mês, as equipes localizaram familiares de dois moradores: Francisco Ferreira Filho e Lecy Henriques Nunes.

Aos 83 anos, Francisco realizou o sonho de reencontrar sua família após passar mais de 25 anos em unidades psiquiátricas. Neste sábado (24/10), foi recebido em Itaboraí por seus dois irmãos e demais familiares, após terem sido localizados pela equipe de desinstitucionalização, que iniciou em janeiro – com a chegada de Francisco às residências terapêuticas – o trabalho de localização de seus dados para a possível identificação de sua família. O mesmo está previsto para acontecer com Lecy e familiares, na próxima quinta-feira (29/10).

– As equipes do Núcleo Estadual de Saúde Mental e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) desenvolvem um trabalho multidisciplinar, pautado na clínica do dia a dia, que engloba diversos profissionais, como cuidadores, acompanhantes terapêuticos, assistente social, enfermeiros, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros. Um dos principais fatores de motivação destes profissionais está na possibilidade de resgate da história do indivíduo, ou, em alguns casos, na construção de uma nova história de vida – ressaltou o diretor do Núcleo Estadual de Saúde Mental, Rodrigo Japur.

Há mais de 20 anos, a família de Francisco recebeu a informação de seu falecimento em uma unidade psiquiátrica. Sem condições de se deslocarem, acreditaram na informação até que há menos de um mês a sobrinha Aliana de Castro Lopes Ramos recebeu uma ligação informando que Francisco estava vivo e morava com outros ex-internos em uma residência terapêutica.

– Foi um grande susto, mas também uma grande alegria. Quando meu tio Francisco foi internado eu era jovem, mas lembro bem daquele período. Durante anos minha família acreditou que ele tivesse falecido. Quando recebemos a notícia de que ele estava vivo e bem foi como se tivesse “ressuscitado”. Preparamos uma festa para receber a visita dele, mas em festa mesmo estão nossos corações. Vamos em breve a Carmo visitá-lo e pretendemos nos adequar para a possibilidade de que ele venha morar conosco – afirmou emocionada Aliana.

A possibilidade do retorno ao lar da família é avaliada e acompanhada pelas equipes do CAPS em conjunto com a equipe do NESM. Neste processo, há alguns critérios que fundamentam a indicação do retorno – ou não, mas principalmente é considerado o desejo do morador da residência terapêutica, associada à vontade e possibilidades dos familiares.

Encontro marcado – Para a história de Lecy Henriques Nunes, de 75 anos, a data do reencontro com sua família está agendada: 29/10. Um sobrinho de Lecy irá a Carmo visitá-la, reestabelecendo os laços familiares. As histórias contadas por Lecy foram o ponto de partida para a localização de sua família, mas o trabalho também foi justificado com a busca por cartórios e unidades de saúde da região de Carapebus, município de origem dela.

Com um histórico de 41 anos de internação em unidades psiquiátricas e morando há pouco mais de um mês nas residências terapêuticas, a ex-interna mostra sua satisfação por ter tido devolvida sua alegria de cantar e desenhar. Lecy se destaca por seu perfil encantador e colaborativo, participando das oficinas no Centro de Convivência e também das atividades físicas realizadas pela equipe de saúde da família da área onde reside.

Resgatando a história – O trabalho desenvolvido pela coordenação de desinstitucionalização do Núcleo Estadual de Saúde Mental e da rede de atenção psicossocial do município está fundamentado no resgate da identidade e reestabelecimento dos laços familiares dos moradores das residências terapêuticas. Para tanto, o trabalho realizado por um grupo de técnicos de saúde mental, seguindo a linha da clínica do cuidado, atua de forma intensa, contando ainda com os relatos obtidos pelos cuidadores que ficam diariamente com os ex-internos. A partir de dados documentais, histórias e lembranças, a equipe desenvolve um trabalho que aciona órgãos como cartórios de registro civil, secretarias de assistência social e outros, em busca da localização dos familiares.

Terapia da Liberdade – As Residências Terapêuticas são dispositivos de moradia destinados às pessoas internadas por longo tempo em instituições psiquiátricas e que tiveram todos os seus vínculos familiares e sociais rompidos. No Estado do Rio de Janeiro, o Núcleo Estadual de Saúde Mental está localizado no município de Carmo, englobando 21 residências estaduais, onde estão 124 moradores. As Residências Terapêuticas estão vinculadas à Política Nacional de Saúde Mental e à Rede de Atenção Psicossocial Municipal.

Cabe ao Governo do Estado o custeio dos profissionais que acompanham os ex-pacientes nas residências, o fornecimento de medicamentos, alimentação e outros insumos, e a parceria se estende ao governo municipal com a locação das casas. Cada morador das residências terapêuticas ainda conta com benefícios de assistência social para uso próprio, o que movimenta a economia da cidade e região.

FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br

 

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