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Pelo menos 19 tipos de câncer podem estar relacionados ao trabalho

Publicação do INCA aponta que profissionais de algumas áreas como beleza, aviação, química, farmácia, entre outras, estão mais propensos a desenvolver determinados tipos de câncer
Rio (30/04) – Pelo menos 19 tipos de tumores malignos, como os de pulmão, pele, fígado, laringe, bexiga e leucemias podem estar relacionados à ocupação do paciente. A informação está na publicação “Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho”, que o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) lançou, nesta segunda-feira, dia 30. O objetivo é dar o alerta para a identificação de causalidade de certos tipos de câncer, assim como reavaliar as políticas públicas dos ambientes de trabalho insalubres.
Os tumores de pulmão, pele, laringe, bexiga, alguns tipos de leucemias, entre outros, fazem parte do levantamento, que mostra desde as substâncias mais associadas ao desenvolvimento de tumores malignos, como o amianto (ou asbesto), classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como cancerígenas, até produtos aparentemente inofensivos, como poeiras de madeira e de couro, além de medicamentos, como os antineoplásicos, por exemplo.
De acordo com a responsável pela Área de Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente do INCA, Ubirani Otero, a determinação da causalidade do câncer com o ambiente profissional é subdimensionada pela dificuldade de se estabelecer uma relação entre os dois na consulta médica:
“Raramente o médico pergunta ao paciente qual a ocupação dele. É importante que os profissionais da saúde questionem aos doentes diagnosticados com câncer qual foi a rotina laboral que exerceram por mais tempo em suas vidas. Só assim será possível identificar e registrar os casos de câncer relacionados ao trabalho no Sistema Nacional de Agravos do Ministério da Saúde (Sinan)”, diz a epidemiologista.
Os benefícios de auxílio-doença por câncer (acidentário e previdenciário) concedidos pela Previdência Social, em 2009, foram 113.801, e apenas, 0,66% registrados como tendo relação ocupacional. A publicação do INCA vem atender à demanda do Ministério da Saúde (MS), que identificou a carência de informações que permitam encontrar os fatores de risco de câncer relacionado ao trabalho, bem como as possibilidades de estabelecer um sistema de vigilância do câncer dos trabalhadores expostos e dos agentes cancerígenos, numa abordagem ampla que envolva todas as esferas de governo e a sociedade civil organizada.
O diretor-geral do INCA, Luiz Antonio Santini, comenta que a publicação traz todo o conteúdo didático sobre os principais agentes cancerígenos, os tumores malignos por eles provocados e a associação com algumas ocupações específicas:
“Os trabalhadores precisam de mais informações sobre os riscos no exercício de suas funções, porque as concentrações de substâncias cancerígenas, geralmente, são maiores nos ambientes de trabalho quando comparadas a outros locais”, opina.
Santini informa ainda que de acordo com as estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 440 mil pessoas morreram no mundo em decorrência da exposição às substâncias perigosas. Desse total, 70% foram vítimas de algum tipo de câncer.

Prevenção, profissões e tempo de exposição

De acordo com as diretrizes do INCA, para reduzir o número de tumores malignos relacionados com exposições ocupacionais, a principal estratégia consiste na eliminação ou redução da exposição aos agentes causadores. Desse modo, o primeiro passo para prevenir o câncer deverá ser a identificação de agentes conhecidos por causarem aumento do risco para a doença. A legislação já prevê alguns instrumentos capazes de auxiliar nessa identificação, como a ficha de informação de produtos químicos, a catalogação das empresas com a atividade ou uso de agentes cancerígenos, o reconhecimento e a avaliação de risco nos ambientes de trabalho, além do controle da exposição aos fatores de risco.
Os principais grupos de agentes cancerígenos relacionados ao trabalho incluem os metais pesados, agrotóxicos, solventes orgânicos, formaldeído e poeiras (amianto e sílica). A via de absorção (respiratória, oral ou cutânea), a duração e a frequência da exposição aos agentes nocivos influenciam a toxidade, mas esses dois últimos fatores não são fundamentais para o desencadeamento do processo da carcinogênese.
“Não há níveis seguros de exposição a agentes cancerígenos. É fundamental que sejam adotadas ações para reduzir o adoecimento dos trabalhadores em razão do seu ambiente laboral”, explica a Ubirani.
A epidemiologista diz ainda que “a prevenção do câncer relacionado ao trabalho somente será alcançada com a vigilância dos processos produtivos”. Entre as sugestões da publicação está o estabelecimento de prioridades para afastar o trabalhador desses agentes.
“A prioridade da prevenção é a remoção da substância cancerígena do processo das atividades exercidas pelos trabalhadores. Enquanto isso não acontece, as recomendações alternativas são: evitar a exposição e gradualmente eliminar o uso desses agentes, restringir o contato com cancerígenos a determinadas atividades, com a adoção de níveis mínimos de exposição, associado ao monitoramento ambiental cuidadoso, além da redução da jornada de trabalho diário”, completa Ubirani.

Sobre a publicação

As “Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho” foram desenvolvidas por um grupo de especialistas e submetidas à análise de um comitê de consultores da área. O objetivo é oferecer aos profissionais de saúde subsídios, por meio de informação técnica e epidemiológica, para buscar, na história pessoal e profissional do paciente, informações ou indícios de contato com compostos potencialmente cancerígenos nos ambientes ou no processo de trabalho.  A publicação está disponível para download, no site do INCA: http://www.inca.gov.br/

A figura abaixo mostra alguns tipos de câncer que podem estar relacionados à ocupação profissional:

FONTE: INCA

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