RJ registra aumento em todos os indicadores de transplantes no 1º trimestre de 2017
Lançado em 26 de abril de 2010, o Programa Estadual de Transplantes completa sete anos superando a marca de 8,5 mil transplantes de órgãos e tecidos no estado
Aos 41 anos, subir os 72 degraus que separam o asfalto de sua casa, na comunidade da Rocinha, era um grande desafio para José Osmar. Portador da Doença de Chagas, ele viu sua vida mudar com o telefonema do Programa Estadual de Transplantes, para informá-lo de que havia um coração compatível para o procedimento que salvaria sua vida. Hoje, aos 45, ele pretende comemorar mais um ano da nova vida correndo a Meia Maratona Internacional do Rio, em agosto.
– Se não fosse pela família que autorizou a doação de órgãos, eu não estaria aqui para contar minha história. Passei por muitas dificuldades, sem sequer conseguir participar da vida dos meus filhos, porque o mínimo esforço era demais para mim. Só conseguia dormir sentado, ou sentia falta de ar. Depois do transplante, foi como se eu tivesse voltado a viver. Serei eternamente grato à família do doador que teve uma atitude tão nobre para salvar a vida de um desconhecido – conta ele, emocionado.
A mesma emoção é aguardada com ansiedade pelo fotógrafo Joe Eleotério, de 47 anos, morador de Nova Iguaçu. Há quatro meses na lista da Central Estadual de Transplantes, à espera de um doador compatível para realizar um procedimento de coração, ele não perde a esperança de receber a ligação com a notícia mais importante que a família pode receber. Joe tem cardiomegalia – doença que causa aumento no tamanho do coração em proporções anormais – e começou a se tratar aos 26 anos. Ele conta que dois tios já faleceram, vítimas da mesma doença. Ao receber a notícia de que entraria para a lista de espera por um órgão, Joe rapidamente decidiu fazer o que está ao seu alcance para sobreviver.
– Quando soubemos que eu precisaria de um transplante, eu e minha família passamos a falar sobre a doação de órgãos com amigos e com nossa vizinhança. Pegamos panfletos e informativos sobre o assunto, distribuímos nos estabelecimentos comerciais da região, tudo para incentivar as pessoas a falarem sobre o assunto. Entendo que isso é um trabalho de formiguinha, mas de pouco em pouco, a gente pode conseguir fazer muito. Já recebi duas ligações, mas os órgãos não foram compatíveis. A expectativa é grande, mas tento segurar a ansiedade, até para não prejudicar minha saúde. Mantenho a fé – acredita ele.
José Osmar e Joe Eleotério são os rostos que dão cara aos números que o PET busca aumentar a cada dia e a dimensão do que motiva o trabalho dos profissionais do programa: cada vida é uma vida a ser salva. Prestes a completar sete anos de atuação, o programa registrou, no primeiro trimestre de 2017, crescimento em todos os seus indicadores, quando comparados ao primeiro trimestre de 2016. Transplantes de coração, considerados bastante complexos, teve o registro até então inédito no RJ de cinco procedimentos em três meses, o que é considerada uma marca histórica para o estado. No mesmo período, no ano passado, foi apenas um. Os números de transplantes de fígado e de rins também apresentam crescimento, quando comparados ao primeiro trimestre de 2016 – foram 66 transplantes hepáticos e 100 renais no primeiro trimestre deste ano; e 42 hepáticos e 82 renais no mesmo período do ano passado.
– Superamos muitas dificuldades ao longo do ano passado, em que adotamos diversas medidas para adequação dos recursos disponíveis para a saúde e, com uma gestão eficiente, podemos observar os resultados agora. A conscientização da sociedade quanto à importância de falar sobre esse assunto e de, em um momento difícil, que é a perda de um ente querido, autorizar a doação, é o que impacta diretamente nos transplantes. A doação de órgãos é um ato de amor, totalmente altruísta, e permite uma nova chance para quem precisa de um procedimento como este para sobreviver – explica Luiz Antonio Teixeira Jr., secretário de Estado de Saúde.
Em 2017, o número de transplantes de córnea, que já tiveram tempo de espera de até 10 anos, bateram novamente o recorde de procedimentos realizados, uma vez que 2016 já havia superado o ano de 2015. Em 2017, nestes três primeiros meses, foram 153 procedimentos, enquanto em 2016, no mesmo período, foram 113.
– Além do aumento do número de transplantes em todas as modalidades, o tempo de espera também reduziu. O caso da córnea tem sido o mais emblemático, que passou de quase 10 anos para cerca de 1 ano e meio, quando ultrapassamos pela primeira vez a barreira de 500 transplantes em 2016. O PET tem adotado diversas ações de gestão e educação, tanto para profissionais de saúde quanto para a sociedade, com o objetivo de retomar o crescimento e isso se reflete nos indicadores positivos que alcançamos neste primeiro trimestre de 2017 – destaca o nefrologista Rodrigo Sarlo, coordenador do PET.
Aumento de doações – Em 2016, o PET encerrou o ano com taxa de doação em 13.8 PMP (por milhão de habitante). Já no primeiro trimestre de 2017 apresentou alta, chegando a 15.4 (PMP), o que representa uma variação positiva de 12%. Desde que foi criado, em 26 de abril de 2010, o programa já ultrapassou a marca de 8.593 transplantes de órgãos e tecidos realizados nos últimos sete anos, mudando completamente o cenário deste tipo de procedimento no estado do RJ.
Vidas que dependem do “sim” – A legislação brasileira determina que apenas parentes diretos de pacientes com diagnóstico de morte encefálica têm o direito de autorizar a doação de órgãos e tecidos. Não há nenhum documento que possa ser deixado em vida para garantir que a doação ocorra após a morte. Portanto, conversar entre as famílias e expor o desejo de ser doador é a forma mais importante de fazer com que essa vontade seja respeitada. Em 2016, entre as famílias entrevistadas pelas equipes de acolhimento familiar, 46% deram resposta negativa à doação. Já nestes três primeiros meses de 2017, essa índice está em 40,6%.
– Isso mostra que 59,3% das famílias nesta situação disseram “sim” à doação de órgãos. Cada vida é importante, por isso, a conscientização da sociedade é tão importante. A captação de órgãos para transplantes só acontece mediante a autorização familiar. Nas entrevistas, oferecemos à família que perdeu um ente querido o direito de doar os órgãos e, desta forma, salvar vidas que dependem disso – explica Patrícia Bueno, assistente social do PET e integrante da equipe de acolhimento familiar.
Doe+Vida – Com trabalho voltado para a assistência de parentes de pacientes vítimas de ME, as equipes da Coordenação Familiar também realizam, desde 2015, palestras de conscientização em empresas, instituições e diferentes entidades para falar sobre o assunto. Em dois anos, mais de 1,7 mil pessoas já participaram das palestras. Além disso, o programa disponibiliza o site www.doemaisvida.com.br, onde as pessoas que querem se declarar doadoras podem se cadastrar e compartilhar a vontade com familiares e amigos. Apesar de não ser um documento legal, uma vez que somente familiares diretos podem autorizar a doação, o cadastro visa estimular as famílias que discutam o assunto, busquem informações e compartilhem entre todos a vontade de ser doador. Para os mais de 2 mil pacientes que aguardam por um transplante no estado do RJ, a esperança de uma nova vida começa com o “sim” de uma família que, mesmo em um momento de extrema dor, pode dar uma nova oportunidade para outras pessoas. É este o pensamento que garante a fé de pessoas como Joe Eleotério.
FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br