Acompanhamento psicológico auxilia no sucesso de cirurgia bariátricas
Nutricionistas do programa de redução de estômago atendem os operados por dois anos
Dúvidas e medos em relação ao quê e quanto comer, como lidar com perda de cabelo, dores, rejeição alimentar, consumo de bebida alcoólica, cobranças da família. Esses são apenas alguns dos aspectos abordados numa reunião de pessoas que foram operadas pelo Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica, que funciona no Hospital Estadual Carlos Chagas, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A intervenção para redução do estômago é encarada como uma grande vitória pelos pacientes, mas traz grandes desafios para quem passa pela mudança de vida. Tanto que eles precisam ser acompanhados mensalmente, durante dois anos, por psicólogos e nutricionistas.
Implantado em 2010, o programa de cirurgia bariátrica está próximo de chegar a 500 operados e continua a receber candidatos frequentemente, mantendo uma média de 20 a 30 cirurgias por mês. Cada reunião de grupo é realizada uma vez ao mês, sob a coordenação e supervisão de uma psicóloga e uma nutricionista. Um misto de terapia de grupo com consulta nutricional, que permite que os pacientes se expressem e façam questionamentos.
Moradora de Quissamã, Maria de Lourdes Gonçalves, de 58 anos, passou dos 129 quilos aos 93, desde que foi operada, há seis meses. A intervenção permitiu até um novo momento, que a divorciada não imaginou que chegaria: está namorando e vai se casar em abril.
– Antes da cirurgia, tentei de tudo, gastei o que não tinha, para tentar perder peso. Só vivia de cama e pela casa, me escorando nos móveis. Meu meio de transporte era a ambulância. Eu nem fazia mais minha higiene pessoal sozinha. Hoje eu vivo, sou feliz, me cuido – relatou.
Segundo a psicóloga Sylvia Varoni, os candidatos à cirurgia costumam chegar com baixa autoestima, comportamentos que denotam dependência afetiva e falta de controle sobre a própria vida.
– Trabalhamos aspectos motivacionais e de autopreservação. Em grupo, eles se ajudam, interagem. Afinal, a cirurgia traz uma mudança muito importante – explicou ela, acrescentando que, muitas vezes, leva um tempo até que o cérebro processe a informação de que a pessoa não é mais obesa.
Às vezes, a mudança no corpo traz, a reboque, uma revolução na vida. É o que aconteceu com o radialista Cassiano Wagner, de 40 anos, que diminui seu peso de 182 quilos para 111, em oito meses. Agora, planeja mudar de cidade, para recomeçar a vida, depois de um casamento desfeito. Quando fez a cirurgia, Wagner estava com sérios problemas de saúde: impotência, hipertensão e já tinha tido duas isquemias cerebrais.
– Ser magro é ser feliz. Antes, nem amarrava meu tênis sozinho. Agora já estou até começando a jogar futebol de novo. Acho que também mudei como pessoa. Hoje enxergo que era muito inseguro e ciumento, por causa da gordura. Hoje sou mais alegre e extrovertido – contou ele.
De acordo com a nutricionista Kátia Rodriguez, a rotina, após a cirurgia, não é fácil. Na primeira etapa, com duração de três semanas, o paciente só consome líquidos. Na quarta semana, semilíquidos. A partir do segundo mês, estão liberados cozidos e alimentação pastosa. Tudo sempre em pequenas quantidades. A partir do terceiro mês, já é possível ingerir saladas. Somente após o sexto mês que a alimentação começa a voltar ao normal, com um aumento de quantidade.
– A psicologia é o braço direito da nutrição. As pessoas precisam aprender a comer corretamente, mas também devem romper com modos de pensar que fazem com que descontem ansiedades e frustrações no alimento – afirma Kátia, que, junto com a psicóloga, atende a mais 20 grupos já operados por mês, além de cerca de 80 grupos de pacientes que ainda vão operar.