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Demanda por radiofármacos do IEN cresce 50%

Nos últimos dois anos o faturamento com radiofármacos produzidos no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), unidade da CNEN no Rio de Janeiro, cresceu mais de 50%, refletindo um incremento no número de exames de medicina nuclear no País. Embora mais custosos que os convencionais, esses exames oferecem imagens de mais qualidade, auxiliando na indicação de tratamentos. O IEN produz comercialmente dois tipos de radiofármaco marcados com iodo-123 – iodeto de sódio (NaI) e metaiodo-benzilguanidina (MIBG) – e um tipo marcado com flúor-18, a fluordesoxiglicose (FDG). Em média são atendidos por ano cerca de 40 hospitais e clínicas espalhados por oito estados brasileiros, além do Distrito Federal.

O quadro de clientes do iodeto de sódio, para exames da tireoide, e do FDG, usado principalmente em oncologia, manteve-se estável nesse período, mas cresceu o número de doses fornecidas. No caso do FDG, a demanda tende a aumentar significativamente, acredita o chefe da Divisão de Radiofármacos do Instituto, Miguel Ângelo Bastos, “por conta da instalação de novos tomógrafos do tipo PET em hospitais e da liberação da cobertura do SUS para alguns exames.” Em tempo: o IEN acaba de renovar o contrato de fornecimento com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), seu maior cliente, que absorve cerca de 25% da produção de MIBG e 70% do FDG.

Nesse mesmo período dobrou o número de clientes de MIBG. Além de um aumento nas indicações de cintilografias com MIBG para doenças do miocárdío, houve ampliação do uso desse radiofármaco para diagnóstico de tumores neuroendócrinos, substituindo o MIBG marcado com iodo-131, por possibilitar menos exposição do paciente à radiação. São exemplos desses tumores os neuroblastomas pediátricos e os feocromocitonas, ambos na glândula suprarrenal. É o caso do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, afiliado internacional do Johns Hopkins Hospital (EUA), que oferece esse serviço desde 2012.

Pesquisas com MIBG avançam

Também tem crescido o uso dos resultados de exames com MIBG como ferramenta de pesquisa em várias dessas instituições, privadas ou públicas. O Serviço de Medicina Nuclear do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), por exemplo, foi criado em 2012 com recursos para pesquisa da Finep (Fundação Nacional de Ensino e Pesquisa), conta o chefe do setor, o cardiologista Cláudio Tinoco Mesquita. Segundo ele, o Huap tem a maior experiência no Brasil com o uso cardiológico do MIBG. A colega Sandra Ribeiro de Miranda acrescenta: “Somos um centro formador em medicina nuclear, com artigos publicados, participação em congressos, e por aqui passam estudantes e profissionais de várias áreas da saúde.”

No Huap, a cintilografia com MIBG para avaliar a inervação cardíaca é utilizada atualmente em cinco estudos de pós-graduandos. Quatro doutorandos avaliam a resposta de pacientes com insuficiência cardíaca a diferentes tipos de terapias (beta-bloqueadores, ivabradina, prótese aórtica) e uma mestranda estuda a correlação entre melhoras no quadro clínico e na qualidade de vida (aspectos físicos, psicológicos e sociais). “A MIBG é um fator muito potente de prognóstico para essa patologia”, explica Sandra, que faz tese de doutorado na pós-graduação em ciências cardiovasculares da Faculdade de Medicina da UFF.

Os resultados dos estudos no Huap estão em concordância com uma das principais pesquisas de referência internacional na área, o Admire HF (“heart failure”). Publicado em 2009 por pesquisadores da Universidade da Califórnia, este estudo demonstra que exames por imagem nuclear, em comparação a outras ferramentas de diagnose, apresentam resultados mais precisos quanto aos riscos e à indicação terapêutica.

Apoio à gestão médica

O estudo americano norteia também a pesquisa desenvolvida pelo Setor de Medicina Nuclear do Instituto Nacional de Cardiologia, hospital do Rio de Janeiro que é referência do SUS em tratamento cardiovascular, ensino, pesquisa e gestão em saúde. Ali, parte dos exames cintilográficos com MIBG são realizados nos pacientes com insuficiência grave, para avaliar se é recomendável o implante de um desfibrilador.

A pesquisa é acompanhada pela cardiologista Adriana Brito. Segundo a médica-chefe do setor, Renata Félix, esse tipo de intervenção, por ser muito cara, exige uma série de critérios para ser liberada pelo Ministério da Saúde. Um exame de alta resolução como esse pode confirmar a indicação médica e ser mais um critério de aprovação. “O objetivo da pesquisa é ser útil para o SUS na gestão da saúde pública”, resume.

Futuro da radiofarmácia do IEN

Embora sem abandonar a pesquisa, na última década a área de radiofármacos do IEN tem se dedicado principalmente à produção dessas substâncias para atender à crescente demanda da medicina nuclear brasileira. Esse quadro deve mudar com a conclusão das obras de ampliação e adequação das instalações de radiofarmácia. “Vamos retomar uma prática que esteve presente desde a inauguração do cíclotron CV-28, em 1974”, afirma o diretor do Instituto, Paulo Berquó de Sampaio.

Em 2013, o Ministério da Saúde aprovou recursos da ordem de 10 milhões de reais para a realização das obras, que devem estar finalizadas no primeiro semestre de 2018. O projeto tem dois objetivos. O primeiro é dar infraestrutura ao setor para aderir às Boas Práticas de Fabricação (BPF) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao mesmo tempo, vai permitir que as instalações atuais possam ser dedicadas a pesquisa e desenvolvimento de novos radiofármacos.

“Temos um acelerador muito versátil, que pode fabricar vários tipos de radiofármacos”, diz Sampaio. Ao contrário dos outros centros de produção, o IEN produz seu próprio isótopo iodo-123 para marcar as moléculas de NaI e MIBG, e no futuro pode se adequar a outros isótopos.

FONTE: CNEN
http://www.cnen.gov.br

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