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Falta prevenção do câncer de mama no Brasil

O Brasil tem hoje no Sistema Único de Saúde (SUS) pouco mais de 4 mil mamógrafos disponíveis. Se esses equipamentos fossem usados conjuntamente, eles poderiam resultar em 14 milhões de exames de mamografia por ano. Para se ter uma ideia, atualmente se fazem 3,5 milhões. “O problema não é a falta de mamógrafos. É preciso torná-los funcionais. No Estado do Acre, há apenas um para contemplar toda a população”, disse o mastologista do Hospital da Mulher “Prof. Dr. José A. Pinotti” Caism, César Cabello dos Santos, durante o Fórum Permanente Esporte e Saúde, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) nesta quinta-feira.

O evento, promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e organizado pelo Caism, aborda ao longo do dia o câncer de mama: prevenção, diagnóstico e tratamento, com abordagens regional, nacional, mundial e no âmbito da Unicamp. Este tipo de câncer – o mais incidente entre as mulheres (dos cânceres que as afetam, 30% é o de mama) – continua aumentando no país, conforme dados do ano passado. São quase 53 mil casos novos no país, que representam um crescimento anual de 7% em relação a 2010.

Segundo César Cabello, que atua como mastologista há pelo menos 15 anos na Unicamp, a principal arma dos especialistas deve ser a prevenção. A sua recomendação é a realização da mamografia uma vez por ano. Isso está amplamente registrado na literatura. “Nós incentivamos a realização desse exame a partir dos 40 anos de idade”, salienta ele.

No Brasil, de 1980 a 2009, também houve um crescimento da mortalidade, lamenta o médico. “Não estamos trabalhando como deveríamos”, afirma o oncologista. “Nos Estados Unidos, o risco do câncer de mama chega a 1 em cada oito mulheres, mas a sobrevida é da ordem de 84%, diferentemente do que ocorre aqui, onde a sobrevida é de 58%. Isso tem a ver com investimento. O câncer de mama não é o que mata, e sim a metástase [para outros órgãos].”

O estadiamento clínico é uma forma relevante de classificar o câncer. “No serviço público, 37% dos casos avaliados são avançados, segundo dados do Gebecan de 2010, e 41% dos casos mostram comprometimento das axilas. Isso traz um impacto negativo na cura”, recorda César Cabello. Ele incentiva a prevenção e os programas de rastreamento mamográfico como medida para conter o avanço da doença.

Mas, de acordo com sua larga experiência, apesar da gravidade, ainda é preciso ser otimista. O Governo Federal estará, em breve, injetando R$ 4,5 bilhões nos programas de rastreamento e de diagnóstico precoce. Por outro lado, ele reconhece que o orçamento ainda é insuficiente, faltam programas mais efetivos, especialistas e material técnico no serviço público. Mais de 50% dos pequenos municípios não têm mamógrafos, e a população feminina muitas vezes desconhece o que é a mamografia. “É preciso que haja políticas públicas que confrontem situações de risco a que estão expostas a população”, ressalta o médico.

Presente no Fórum o secretário municipal de saúde de Campinas Fernando Luiz Brandão, oncologista da Unicamp, ele comentou que o Caism é um importante exportador de programas relacionados ao câncer, dentre eles o de Controle do Câncer de Mama e o de Câncer Cervicouterino, hoje paradigmas para a rede de saúde pública. Mesmo assim, garante o ginecologista Oswaldo Grassiotto, diretor-executivo desse hospital, o câncer de mama é uma das moléstias mais desafiadoras do momento. “Tivemos sucesso em vários programas, porém esse câncer permanece com uma janela de sete a dez anos para que haja o diagnóstico e a devida intervenção”, informa.

Em sua opinião, o que mais gera esse impacto é mesmo o tempo. “Nossa região, localizada no cinturão de Campinas, é uma das principais referências para o Estado de São Paulo. Deste modo, quanto mais rapidamente for feito o diagnóstico, melhor será para todos”, garante Grassiotto. Está em curso no momento a ação Outubro Rosa, da campanha mundial de incentivo à prevenção e ao diagnóstico precoce do câncer de mama. O movimento, que será realizado ao longo do mês, busca alertar sobre os seus riscos e a necessidade de fazer o diagnóstico rapidamente deste tipo de câncer, que é o segundo mais recorrente no mundo, após o de pele.

FONTE: UNICAMP

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