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Serviços especiais para idosos vêm mudando a vida de pacientes da 3ª idade

Projeto Pater no  Centro Psiquiátrico do RJ. Paciente, Elita.No último censo em 2010, eles já totalizavam 14 milhões de pessoas, representando 7,4% de toda a população do país, percentual superior ao de crianças com mais de 4 anos de idade. Os idosos, parcela que não para de crescer, têm recebido atenção especial da Secretaria de Estado de Saúde em programas voltados para atendê-los de forma diferenciada e eficaz. Entre eles, o Projeto de Atenção Ambulatorial à Terceira Idade (Pater), o Centro Estadual de Trauma doIdoso e o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento.

Problemas psicológicos causados por tragédias pessoais são lugar comum entre os pacientes atendidos pelo Pater, que funciona no Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro (CPRJ), na Gamboa, há oito anos. A morte de um ente querido, desilusões amorosas, falta de estímulo para seguir em frente fazem parte das histórias de idosos que conseguiram dar a volta por cima e hoje vivem uma nova realidade a partir do tratamento no programa, que atende a mais de 100 pacientes.

Para participar do projeto, o paciente deve ser encaminhado pelo ambulatório do CPRJ após uma avaliação que detecta se ele tem o perfil do serviço, que engloba sintomas de depressão e demência. No Pater, esses pacientes passam por novas avaliações funcionais e cognitivas onde são testadas memória, existência de transtornos auditivos e visuais, problemas de marcha, motores, entre outros.

– Começamos a perceber um número muito grande de idosos com perda das funções cognitivas e que não são pacientes psiquiátricos. Daí, surgiu a ideia de criar um espaço só pra eles, com atendimento de psiquiatria, geriatria, fisioterapia, psicoterapia, neurologia, psicologia, entre outras especialidades, oferecendo um tratamento mais completo e focado nas necessidades deles – explica a coordenadora de Atividades Funcionais do projeto, Valéria Lages.

As atividades incluem grupos de atenção para transtorno de memória, terapia ocupacional, musicoterapia e atividade neurofuncional, onde os pacientes fazem atividades físicas como dança, por exemplo, estimulando, com isso, as funções neurocerebrais, além da coordenação motora, musculatura e equilíbrio.

Marília Gomes, de 83 anos, é frequentadora assídua de todas as atividades oferecidas pelo projeto. Casada durante 60 anos, sem filhos, ela se viu sozinha quando seu marido faleceu, há seis anos. Sem nunca ter trabalhado, Marília viveu em função do companheiro durante toda a vida e a falta dele abriu espaço para um quadro sério de depressão.

– Meu marido era muito fechado e eu vivia para ele. Era meu marido, meu pai, meu filho, meu amigo. Fiquei sem chão quando ele faleceu. Não ria, não queria sair de casa. Comecei a me tratar no Pater e hoje sou outra pessoa. Isso aqui me distrai, passei a rir, gosto de me arrumar, a medicação pra tratar a depressão diminuiu muito. Venho duas vezes por semana e gosto de todas as atividades. Fiz amigos aqui que viraram minha família.

Entusiasta do projeto, Valéria, fisioterapeuta e também ex-bailarina, conta que o retorno que tem recebido dos pacientes tem sido o melhor possível.

– A maioria relata que depois de começar o tratamento a vida passou por uma revolução positiva. Tenho uma paciente que chegou de muletas, se arrastando, e hoje participa de tudo. Eles ficam ansiosos pra chegar o dia das consultas. O difícil é o momento da alta, eles não querem ir embora – relata.

A paciente que chegou de muletas é Elita Santos, de 69 anos, uma das mais antigas no projeto. Quem a vê falante e sorridente agora não consegue imaginar as provações pelas quais passou. Há cerca de 20 anos, Elita perdeu dois filhos, neto e nora em um acidente na Avenida Brasil. Com depressão profunda, foi acolhida pelo CPRJ e chegou a participar da banda formada por pacientes da unidade, Harmonia Enlouquece, tocando pandeiro. Há oito anos, começou o tratamento no Pater, onde, segundo ela, recebeu ajuda médica e muito apoio.

– Fiquei muito revoltada com o que aconteceu. Eu chorava sozinha na rua, agredia as pessoas gratuitamente, blasfemei contra Deus. Foi aí que percebi que precisava me tratar. Cheguei ao Pater hipertensa, diabética, asmática e mau humorada. Mas sou igual ao lírio, me jogam no pântano e saio linda, branca e perfumada. Consegui dar a volta por cima e hoje me sinto muito bem. Um dia estava na rua, passei em frente a uma igreja e ouvi uma voz cantando. Entrei e chorei mais do que a chuva que estava caindo. Foi aí que fiz as pazes com Deus – conta, emocionada.

Uma decepção amorosa foi a causa dos problemas com alcoolismo pelos quais João Armando de Souza, de 64 anos, passou. Casado, com um filho de três anos e funcionário de uma empresa pública, João se apaixonou por uma mulher, que o fez largar família e emprego e ir morar nas ruas. Foram 18 anos de excessos, que o levaram a ter um câncer no fígado e glaucoma. Hoje, parcialmente recuperado, vive uma nova vida e se beneficia do tratamento que recebe no Pater para seguir em frente.

– Minha vida começou a mudar quando meu filho, já adulto, me achou na rua e me tirou de lá. Relutei no começo, mas ele insistiu e essa foi minha salvação. Fui pra uma clínica de reabilitação de viciados e depois encaminhado ao CPRJ, onde já me trato há 23 anos. No Pater, estou há três. Venho três vezes por semana e isso aqui me põe muito pra cima, é um trabalho muito bonito que é feito aqui dentro, que muda a vida das pessoas. A minha melhorou 100%. Eu tomava muito remédio, estava deprimido. Agora levo a vida brincando, todo pensamento ruim que tinha na minha cabeça acabou e minha relação com meu filho vai otimamente bem – brinca.

Estudo da terceira idade – Inaugurado em outubro do ano passado, o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe Pró-Idoso), foi criado para ser um ambiente de estudo da saúde do idoso, congregando profissionais de saúde, universidades e sociedade civil para realizar estudos, pesquisas e protocolos na área do envelhecimento, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da terceira idade.

No espaço, acontecem palestras, seminários e simpósios, sessões clínicas e cursos de Geriatria e Gerontologia para profissionais de saúde e cursos de cuidadores de idosos, todos gratuitos. Este último, voltado para profissionais de saúde e leigos, visa à assistência a idosos frágeis e dependentes e oferece suporte e qualificação às pessoas que cuidam desse público. Desde a inauguração, já foram realizados 27 cursos de cuidadores de idosos, totalizando 674 participantes.

Os idosos atendidos no Cepe são encaminhados pelas unidades de atenção primária e avaliados por equipes multidisciplinares, compostas por geriatra, enfermeira, neuropsicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social e terapeuta ocupacional. Essas atividades subsidiam a pesquisa, o ensino e a proposição de políticas públicas para a superação dos desafios do envelhecimento. Até agora, mais de 400 idosos já foram atendidos na unidade.

O Cepe dispõe de quatro salas de aula, dois auditórios, sala de vídeo conferência, 15 consultórios e uma estação de trabalho com instalações para pesquisadores externos.

FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br

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